quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Crônica de um ateu - Túlio Monteiro*



Areia, roupa branca, se o champanhe “estourar” é sorte! Se não: ano ruim vem por aí. Macumbeiro misturado com católicos, “crentes”, ateus, dizimistas, anjos e demônios. Uma Babel, cara! “Ruma” de gente pulando sete ondas...essa miscigenação, rapaz, me extasia. 18 MInutos que começam coma a mesma sílaba de MIlhões poluindo o ar e ninguém diz nada.
 Não!
Haja Selfie nas luzes coloridas para no ano que vem ser tudo igual.
            Passei o ano e casa, com a família, e teve tudo isso explicitado nesse palimpsesto[1] chamado televisão, digamos e sejamos sinceros, está cada vez melhor em sua velocidade de transmissão.
Mas o grande barato, mesmo é a marcação dos anos nas diferentes regiões do Mundo. Vejamos só, de maneira sucinta como são essas demarcações que aqui, pelo Ceará, a gente chama de esculhambações. Um negócio de doido. Mas vou buscar uma linguagem mais amena, para ficar bonita e atrair você, caro(o) leitor(a). Leiamos:
Nosso calendário é apenas um código. Um sistema divido em três partes (dia/mês/ano) que permite nos localizarmos no tempo-espaço. O calendário de 365 dias que usamos é o resultado científico de calcular quanto tempo a Terra leva para completar uma rotação em torno do Sol.
Enquanto os dias e meses são baseados em forças gravitacionais do planeta, e, assim, fundamentados na realidade, o terceiro aspecto das datas - o ano - é uma bagunça total. Por que consideramos 2018 o ano que estamos vivendo atualmente? Por que marcamos o início do ‘tempo’ moderno com o nascimento de Jesus (logo a denominação Antes de Cristo (a.C.) e Depois de Cristo (d.C.) depois de algumas datas). Mas disso você já sabia. E também já sabe que a Terra não tem só 2018 anos. Na verdade, nosso planeta tem cerca de 4 bilhões de voltas em torno do Sol.
"Em nenhum momento na história da humanidade houve um único sistema de datação uniforme que foi compartilhado por todos," diz o professor de História Antiga da Universidade da Califórnia-Berkeley, Dr. Carlos Noreña, a Pacific Standard.

ANO UM GREGO

          Não vamos nem discutir o Ano Zero, visto que a disputa pelo Ano Um ocorre antes mesmo do conceito de zero existir. Os gregos foram os primeiros a tentar datar o Ano Um. Eles pesquisaram em seus arquivos e decidiram que o Ano Um deveria estar ligado a um evento de importância cultural. Portanto, o Ano Um se estabeleceu no primeiro ano que os Jogos Olímpicos foram realizados. Para nós, isso é 776 a.C., mas para os gregos é o Ano Um.

ANO UM ROMANO

            O Império Romano também teve seu próprio sistema de datas. Eles decidiram que o Ano Um também deveria estar ligado a um evento importante. E o Ano Um romano coincide com a fundação da cidade de Roma. No nosso calendário, Roma foi fundada em 753 a.C. "Os romanos não impuseram seu sistema de datas. Visto que eles eram tão poderosos e influentes que as pessoas aderiram ao sistema de calendário porque era conveniente”, explica Noreña.

OUTROS ANOS UM

           Enquanto os sistemas grego e romano eram os dominantes, surgiram outras culturas com diferentes Anos Um. O Império Bizantino começou seu primeiro ano no que foi considerado o ano de criação do Império (5509 a.C.). A Igreja de Alexandria começou seu Ano Um no que conhecemos como 284, para coincidir com a ascensão do imperador romano Diocleciano no poder.
O calendário sumeriano reiniciava o Ano Um a cada novo Rei. Calendários circulares, como o Maia, que começou no que agora é 3114 a.C., completando um ciclo e começando de novo em 21 de dezembro de 2012. (Quando muitos pensaram que essa era a data do fim do Mundo).

ANO UM CRISTÃO (NOSSO ANO UM)

          Dentro deste caos de calendários, um humilde monge chamado Dionísio Exiguus apareceu. Ele se perguntava por que estavam datando as coisas pela fundação da cidade de Roma. Não fazia sentido nenhum para o monge. Então, ele decidiu encontrar um evento mais importante para contar o Ano Um. Naturalmente, sua escolha foi o nascimento de Cristo.
Dionísio tomou seu ábaco, triturou alguns números, e descobri quando Jesus nasceu. Ele escreveu uma carta a um bispo nomeado Petrônio detalhando seus planos para o Ano Um, designando-o como Anno Domini, que se traduz como “o ano do Nosso Senhor."
Representação de Jesus Cristo (Foto: Criative Commons)
 Porém, Dionísio esqueceu de levar algumas coisas em consideração. "O Evangelho de Mateus afirma que Jesus nasceu no tempo de Heródes, o Grande, que morreu em 4 A.C.", escreve David Ewing Duncan, em seu livro Calendar: Humanity's Epic Struggle to Determine a True and Accurate Year (Calendário: a luta épica da humanidade para determinar um ano verdadeiro e preciso).
 Portanto, o nascimento de Cristo deve ter ocorrido antes dessa data. Outros Evangelhos e fontes históricas sugerem datas que variam de 7 a.C. a 7 d.C., embora a maioria dos historiadores aceitem 4 a.C. Isso significa que o ano 1996 foi, provavelmente, o verdadeiro ano 2000 no calendário Anno Domini, de Dionísio.
O conceito de Dionísio não foi aceito tão facilmente. Os últimos grandes redutos foram Portugal, que adotou o sistema só em 1422, e o Império Russo, que cedeu em 1700. No século XIV, a maioria dos Estados estavam de acordo. É importante ressaltar o conceito de a.C. só foi introduzido em 1627, por um astrônomo francês. Ele argumentou que o mundo existia antes do Anno Domini.

E SE O NASCIMENTO DE JESUS NÃO FOSSE CONSIDERADO?

Existem duas possibilidades para esse caso:
  1. Nós ainda estaríamos usando o calendário romano. Ele foi o mais difundido na época. Nesse cenário, estaríamos vivendo no ano 2768.
  2.  Sem Jesus, outra religião surgiria para preencher o vazio, como se isso já não houvesse ocorrido, onde apenas uma possibilidade distinta seria o Islã, já que seu calendário, ainda em uso em alguns países muçulmanos, começa em 622, o ano de emigração do profeta Maomé de Meca para Medina, um evento conhecido como Hijra. Cenário no qual estaríamos no ano de 1393.

No fim e ao cabo, amigos(as), ao meu ver O Ábaco ainda é mais perfeito que o Big-Ben ou o meridiano de Greenwich, nossos marcadores de tempo mais precisos, revelando que o Tempo, o senhor de nossas existências, não se importa muito como o viveremos. Marca ele, sim, o indelével...reservando-nos àquela que nunca falta à última aula de nossa história: A MORTE!

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[1]Palimpsesto -  papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado, para dar lugar a outro.

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*Túlio Monteiro - escritor, biógrafo, pesquisador, revisor, ensaísta e crítico literário, publica todas as segundas aqui no Evoé! Leia também Literatura com Túlio Monteiro.

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