segunda-feira, 15 de maio de 2017

TAUAÇU DE MEU PEITO - Túlio Monteiro

Este dó de peito. Esta nota tão relapsa e ao mesmo tempo tão complexa me foi arrancada do nó – pomo de adão – há tempo. Eu que já gritei, esperneei e nunca tive tanto esquecimento em meu cérebro, hoje transtornado pelo tempo, digo: – Ora, se amar nunca me trouxe a exatidão do termo AMOR dentre os corações que habitei, por tantas mãos e corpos que já passei. Nunca me coube aportar meu barco condenado que fui a navegar por um mar de tormentas, de sargaços, sempre a desbancar-me em ondas gigantescas. Olhos fora d´água em gritos tão altos busca de um tauaçu que fosse para amarrar a jangada desse coração nada perene no que diz respeito a fixar amarras.

Entre sereias e Marias fui sempre Tritão pelas auroras de meu mar, cara donzela. O que fazer se nasci assim, um tanto curumim, um tanto alma velha. Velho senhor que se pensava dono de seus dons a esporear o tempo, açoitando meu destino aos quatro ventos. Faca nos dentes, arrebentando o que vinha pela frente. Até descobrir o que é a paixão e a morte, minha eterna companheira nesse ínterim chamado vida, pois de rede branca, cachorro latindo me esperando, nunca soube o que era varanda arrodeada de beirais e flores.

Sempre fui verde menino e remoto senhor a caminhar sobre as brasas de corações femininos; uns ferinos outros especialmente felinos. E fui gastando meu precioso tempo e o reliquioso tempo de outros entes queridos (?) de uma forma tal que o que me restou foi o absolutamente nada, um certo carma, nirvana, por fim, a qualquer instante me bater à porta, vamos lá, chegou tua hora. 

Um gosto de cânhamo me habita a língua e a boca, trazendo-me a certeza única que morrer não dói tanto quanto se estar vivo e inativo, já que só o que restou desse que bate no peito como alento são lembranças e lembranças são como cultivar ventos, tempestades, temporais e escassez.

Entram dias e saem dias sem nada do que previ aconteça. Estarei já eu morto vivendo no tal purgatório dos suicidas? Será que simplesmente já fui e naturalmente não sei disso ou estou mesmo louco vendo o porvir sem nada poder fazer? Perguntas! Para que servem tais substantivos femininos de interrogação, se o coração feminino já é um interrogatório sem defesa de causa?! Ah! As mulheres, entes, djinns e flores de jardins. Como foi bom dividir-me entre vocês nessas décadas a caminhar sem tréguas no campo de guerra vida. Perdi muitas batalhas e fui vencedor em tantas outras que se me chegasse a hora agora, diria eu àquela que sempre chega silenciosa, diáfana e medonha a sentar-se à beira de um lugar qualquer para nos esperar com a paciência de sempre: – Leva-me, então, pois se vim a esse mundo para coabitar-te frente a frente, cabeça a cabeça, desta vez tu perdeste mais que eu.

4 comentários:

  1. Que show de linguagem, estilo e beleza! Um fluente em poesia, com seus mistérios e lembranças e/ou divagações.

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  2. Q a VIDA (mesmo breve); q o VENTO (saulo erradio);q a VELA (saudade errante)...leve-o daqui p a terra perdida das musas e garanta esta pena aguçada diariamente! Márcia Matos

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  3. Só o mestre Túlio Monteiro pode, desse jeito, volitar em cima das palavras. Ele pensa e fala sem medo dos abantesmas paradigmáticos de alto mar. Navegar é a sua meta, vivenciando é claro, para a posteridade, através das diferentes formas grafêmicas. Escritor nato.
    Os cumprimentos do menor amigo. Jornalista Roberto Cunha Lima. Aposentado UFC. chitauli1@live.com

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  4. vou imprimir seu material pra ler no fim de semana, é uma verdadeira cachoeira literária
    quanto talento, fertilidade, impulso! Carlos Emílio C. Lima

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